Memória

noviembre

memória. F. Capacidade por meio da qual se retém e recorda o passado.

Tal como no ser humano, a memória é uma capacidade intrínseca ao vinhedo e ao vinho.

A vindima de 2021 é história, agronomicamente falando, claro, porque na adega ainda temos muito trabalho a fazer até alcançarmos o equilíbrio certo com aquilo que a vinha nos deu.

Nos meses e anos vindouros, os vinhos de 2021 serão a memória viva dessa colheita. Ao provar um vinho, ele irá recordar-lhe como foi a floração e a frutificação, que tamanho atingiram os bagos, se houve ou não stress, a pressão criptogâmica, a maturação, e como tudo isto foi interpretado na adega.

De igual modo, também a vinha e o vinhedo têm a sua memória. As recordações da campanha de 2021 irão condicionar a sua expressão na colheita de 2022.

A floração de 2022 está em parte já definida pelo início da floração do verão passado. Os dados estão lançados. Na próxima primavera poderemos trabalhar com base na floração de 2023.

A eclosão dos rebentos e o arranque vegetativo de 2022 estão diretamente dependentes das reservas que a cepa consiga acumular durante a frutificação que em breve terá início. A acumulação de reservas é um reflexo direto do estado da planta durante o último ciclo vegetativo, das carências e do stress que suportou. O parcelamento sofrido por esta vindima fará com que a acumulação de reservas seja insuficiente, iniciando assim o próximo ciclo vegetativo com carências.

Nesta campanha de 2021 de análise de sarmentos e pecíolos observámos algumas tendências que nos levam a refletir sobre como começar a trabalhar a próxima colheita.

Os vinhedos ECO de sequeiro iniciaram a sua atividade com reservas entre médias e baixas em N e outros elementos importantes, e baixas em oligoelementos (Zn, B, Fe, Mn). Nos vinhedos de regadio, os elementos mais importantes tiveram um comportamento idêntico aos dos vinhedos de sequeiro, mas as carências em oligoelementos foram tendencialmente muito baixas.

No cultivo convencional de sequeiro observámos deficiências no metabolismo do N durante o ciclo vegetativo. No cultivo de regadio estas deficiências estenderam-se a outros elementos importantes. O teor em oligoelementos era baixo a muito baixo em ambos os casos.

Este ano foi difícil atingir a maturação, e se não tivessem sido feitas correções antes da floração e depois da frutificação, teria sido bem pior. Se acrescentarmos ainda o facto de não termos tido um tempo favorável, concluímos que a planta já vinha “coxa” de uma primavera fresca e húmida, que limitou a mineralização no solo e a disponibilidade de nutrientes.

Para assegurar um bom arranque vegetativo em 2022, sobretudo nos vinhedos que mais sofreram, poderemos mitigar estas carências começando a trabalhar antecipadamente o solo com adubos e fertilizantes orgânicos adaptados a cada caso, e, se o estado das folhas assim permitir, com aplicações foliares pós-colheita dos bioestimulantes orgânicos adequados.

Não quero pressionar, mas a colheita de 2022 está em marcha e, na próxima primavera, a cepa, que tem boa memória, irá recordar aquilo que lhe fizemos e não fizemos durante a campanha anterior.

Categoria: Vinha

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